O meu caminho até Fátima

A chegada ao Santuário de Fátima e o sentimento muito forte do dever cumprido.

O projeto de ir de Lisboa a Fátima, a pé, surgiu em 2006. Na angustiante manhã de 14 de fevereiro fiz a promessa.

O tempo foi sempre adiando que a cumprisse pelas mais variadas razões. Até que, este ano, poucos meses antes de empreender o desafio, tomamos a decisão conjunta de o concretizar em 2022.

Tudo foi programado para realizar a peregrinação em 5 dias, de 10 a 14 de junho, com as seguintes etapas:

- Lisboa (Parque das Nações) - Vila Franca de Xira

- Vila Franca de Xira - Azambuja

- Azambuja - Santarém

- Santarém - Monsanto

- Monsanto - Fátima

Embora naquele distante ano de 2006 nem sonhasse que existisse o Caminho de Fátima ou o Caminho do Tejo, a verdade é que quando comecei a estudar a melhor forma de concretizar o projeto essas opções passaram a ser uma exigência a cumprir. Dessa maneira, em 2022, esse foi o critério.

Para mim, residente a 973 km do início da 1.ª etapa - pois nasci e resido na cidade do Funchal, na ilha da Madeira - devo confessar ter sido a melhor opção que poderia ter tomado. Pelo simbolismo ligado ao desígnio a que me propunha e também porque me apercebi da organização que existe para concretizar o caminho.

De qualquer forma, confesso que estava apreensivo antes de sair do Parque das Nações, em Lisboa. Era bem cedo e desconhecia que ambiente ia encontrar naquela área recuperada para a Expo 98. 

Comecei a encontrar algumas pessoas, aqui e ali, e, aos poucos, fui relaxando e concentrando-me no percurso que me esperava.

Subsistia, ainda, alguma nervosismo pelo desconhecido, mas depressa percebi que poderia ficar descansado. Bastava estar atento e seria guiado até ao Santuário de Fátima.

Numa parte do percurso, em Sacavém, optei por não seguir o Caminho histórico pelo Trancão, porque daria uma volta desnecessária. Já devidamente programado para assim fazer, optei pela N10 até o reencontrar mais à frente na Póvoa de Santa Iria.

A partir dali, até Vila Franca de Xira, conheci uma das melhores partes de todo o trajeto até Fátima.

Apesar dos cuidados no detalhe, o Caminho que fiz em solitário seria mais difícil sem a presença, à distância, da Mafalda, a minha mulher, que me acompanhou ao longo do percurso. Igualmente importante foi ter, à partida e à chegada, o meu filho Bernardo, assim como estar à minha espera na Azambuja e nos Olhos de Água, juntamente com a Alexandra. E, por fim, mas não menos relevante, o valor de ouvir as palavras motivadoras do meu filho mais novo, o Rodrigo, a razão de fazer a caminhada. 

No balanço, reafirmo que gostei, sobretudo, da 1.ª etapa, pela diversidade de vistas que usufruí. 

As etapas seguintes tiveram apontamentos que retive, mas, de um modo geral, é tudo monótono, sobretudo para quem esteve focado em chegar ao fim de cada dia, com uma média em redor dos 30 km e cerca de 8 horas de caminhada.

Talvez devesse ter ido mais devagar. Mas a alta temperatura convidava a andar mais depressa.

A verdade é que apanhei muito calor, apesar de sair muito cedo, para procurar evitar o calor, quando apertasse. 

Cada dia partia mais cedo. E tanto assim foi que, no último percurso, quase não via o caminho, devido à escuridão matinal naquela parte sem qualquer iluminação, no meio da serra. Tive de ligar a luz do telemóvel quando me pareceu estar junto a um marco. E, na realidade, indicava o caminho para Fátima. Subi um caminho de terra batida, irregular, e com pedras, sem ver bem onde estava a pisar. 

E, depois, nesse último percurso, evidentemente, o que mais me satisfez foi a chegada ao Santuário de Fátima, onde o cansaço turvou um pouco o momento máximo que nos motivou a fazer a longa caminhada de cerca de 150 km que foi o cumprimento da promessa pelo nosso Rodrigo,  que hoje está já um grandalhão muito generoso e um grande amigo.

Apenas um dado interessante, que, a meu ver, sobressai, que residiu no entrosamento que vamos cimentando com a sinalética ao longo de todo o percurso.
Estava em Minde, na última etapa, onde optei por não seguir pela Serra de Aire. A razão deveu-se a ter lido que estaria infestada de percevejos, aos quais não estava nada interessado em dar boleia. E muito menos queria ser internado com febre, como me disseram ter acontecido por aquela altura com outros perigrinos.

Assim, tomada a decisão,  despois de fotografar o sinal que indicava a direção que não ia percorrer, coloquei a mão em cima desse marco, quase por impulso, como quem se despede de alguém. Naquele momento, comovi-me. Comecei a distanciar-me e, durante uns bons metros, as lágrimas desprenderam-se. 

Ainda agora me comovo a escrever estas palavras.

Umas notas finais para referir que recomendo, vivamente, que se faça o caminho de Fátima, entre Lisboa e o Santuário de Fátima. É relaxante e muito marcante nas nossas vidas 

Talvez, um dia, volte a repetir.

Bom Caminho para Fátima!

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